Ministério Público vai apurar atraso na obra da Unifrango
Representante da empresa diz que ela nunca prometeu gerar 2 mil empregos em Apucarana
“Haverá agora o recesso de final de ano, mas no meu
retorno vamos fazer um amplo levantamento para apurar se a doação
foi legal e se foi cumprido tudo o que está na lei”, anunciou o
promotor. “Se não foi, vou propor uma Ação Civil Pública para
reverter a doação dos terrenos e para que o município seja
devidamente indenizado”, acrescentou Cabrini.
Durante
a reunião, convocada por iniciativa do vereador Aldivino Marques, o
“Val” (PSC), Domingos Martins afirmou, de forma clara, que a
Unifrango não vai construir um abatedouro de aves nos quase 15
alqueires que recebeu da Prefeitura de Apucarana na saída para
Califórnia. De acordo com o empresário, será construído apenas um
Centro de Distribuição, gerando 120 empregos. “A empresa nunca
disse que ali seria construído um abatedouro, até porque a
legislação não permite esse tipo de obra naquele local. A empresa
também nunca disse que os investimentos nesse terreno gerariam 2 mil
empregos”, acrescentou Domingos Martins.
OUTRA DOAÇÃO
Segundo
o empresário, para a construção de um abatedouro de aves seria
necessário que o Município doasse outro terreno, de aproximadamente
20 alqueires. Cabrini e vários vereadores mostraram-se contrariados
com a explicação do empresário. “O que foi passado para a
cidade, seja pela empresa, seja pela administração municipal, é
que a obra geraria 2 mil empregos. Acho que isso é indiscutível e é
só perguntar para qualquer pessoa na cidade”, afirmou o promotor.
O vereador Val citou nota distribuída pela própria Unifrango,
quando da assinatura do protocolo de intenções entre Prefeitura e a
empresa, em março de 2007, dizendo que no local seria feito um
investimento de R$ 40 milhões e em duas etapas. “A
primeira fase prevê a aplicação de R$ 10 milhões na construção
de um centro de distribuição, que contará com armazéns
frigorificados com capacidade de 25 mil toneladas e um terminal
ferroviário para movimentação de mercadorias. Nesta fase, serão
criados 120 empregos diretos. A expectativa é que a implantação
esteja concluída no primeiro trimestre de 2008”, dizia a nota,
reproduzida em vários jornais e sites do agronegócio. A nota
prosseguia afirmando: “A segunda etapa terá como objeto a
construção de um abatedouro de frangos de corte e vai receber R$ 30
milhões em investimentos, viabilizando a criação de 1,8 mil postos
de trabalho diretos”.
Domingos Martins admitiu que a nota esteve no site da Unifrango, à
época, mas disse que a assessoria de imprensa do grupo deve ter
feito “a transcrição de algum noticiário”.
Os vereadores questionaram se, para construir apenas um Centro de Distribuição, a Unifrango precisa de toda a área recebida. O empresário disse que sim, porque trata-se de “um dos maiores centros de armazenagem de frigorificados do Sul do País”. Quanto a outro terreno, com cerca de 20 mil metros quadrados na área central da cidade, também destinado pela Prefeitura à Unifrango, Domingos Martins disse que a empresa comprou o direito de comodato, que pertencia a um grupo de Cambé. De acordo com o empresário, a Unifrango mantém a disposição de construir no local uma processadora do chamado premix, uma mistura de vitaminas e sais minerais em fórmula nutricional. Por fim, o empresário queixou-se de que, embora o município já tenha investido mais de R$ 1 milhão em terraplenagem no terreno localizado na saída para Califórnia, ainda faltariam várias melhorias previstas na lei de doação, como a correta destinação das águas pluviais. Martins apresentou um cronograma de obras que prevê a conclusão do Centro de Distribuição em agosto de 2011.
Para
vários vereadores, a população de Apucarana foi enganada com o
anúncio de um investimento de R$ 40 milhões e a geração de 2 mil
empregos em Apucarana através da Unifrango. “É preciso ficar bem
claro que a doação de quase 15 alqueires e o investimento de R$ 1
milhão em melhorias, bem como todo o barulho feito em torno desse
projeto, foi para gerar apenas 120 empregos. Precisamos apurar o que
o município pode ganhar em termos de arrecadação. Se for só pela
geração de emprego, tenho certeza de que os vereadores reverteriam
essa doação de terreno agora”, afirmou Aldivino Marques, o “Val”.
“Realmente
essa história ainda não está bem explicada. Toda a cidade espera
que esta obra, prometida desde 2007, venha e gere 2 mil empregos”,
afirma José Airton Araújo, o “Deco” (PR). Júnior Serea,
representando o Observatório Social, confirmou que a transcrição
dos documentos legislativos da época atestam a geração de 2 mil
empregos. Marcos Martins (PTC) questionou a direção da Unifrango
sobre quantos empregos gerará a processadora de premix, caso venha a
ser instalada. “Outros 120, mais ou menos”, respondeu o
empresário.
O vereador Valdir Frias (PTB), representante da Vila Reis, comunidade que fica ao lado do terreno doado, afirmou que os moradores esperam a solução do caso, pois aguardam os empregos prometidos. Também estiveram presentes o secretário municipal de Indústria e Comércio, Ivo Martins, os vereadores Alcides Ramos Júnior (DEM), Júnior da Femac (PDT), Lucimar Scarpelini (PP), o presidente da Câmara, Mauro Bertoli (PTB), Luiz Brentan (PSDB), Carmelo Ribeiro (PR) e Telma Reis (PMDB).
*Reprodução do texto autorizada mediante citação da Câmara Municipal de Apucarana