Nadadora Dailza Damas morre, aos 50 anos, em SC

por Administrador publicado 07/11/2008 13h38, última modificação 08/04/2016 17h26
A nadadora apucaranense Dailza Damas, de 50 anos, morreu na madrugada desta sexta-feira, em Balneário Bombinhas, Santa Catarina, onde morava. Seu corpo esta sendo velado na Câmara Municipal de Apucarana - Pr.
Nadadora Dailza Damas morre, aos 50 anos, em SC

A nadadora Dailza Damas, de 50 anos, morreu na madrugada desta sexta-feira, em Balneário Bombinhas, Santa Catarina, onde morava. Ela sofreu uma parada cardíaca e chegou a ser hospitalizada, mas não resistiu.

Dailza submeteu-se recentemente a uma cirurgia para retirar um tumor no cérebro, e estava em fase de recuperação. O velório e o enterro serão em Apucarana, no norte do Paraná, cidade natal da atleta.


CONHEÇA SUA HISTÓRIA:

Para a paranaense Dailza, não há nada mais excitante do que nadar longas distâncias no mar, enfrentando baixas temperaturas e corredeiras ameaçadoras. Nem mesmo os tubarões assustam essa mulher audaciosa


''Eu atravessava o canal da Catalina, na Califórnia (EUA), quando cruzei tubarões pela primeira vez. Fiquei apavorada, me aproximei lentamente do barco que me acompanhava e ali fiquei praticamente imóvel na água. Os tubarões percebem se há alguma agitação excessiva, então fui me acalmando e controlando os meus batimentos cardíacos, até que eles foram embora. Isso aconteceu em 1993, um ano depois de eu ter feito a minha primeira grande travessia, que foi cruzar os 32 quilômetros do canal da Mancha. Treinei quatro anos antes de embarcar para a Inglaterra. Éramos cinco nadadores dispostos a enfrentar aquele mar agitado. Depois de nadar por duas horas, começou um vendaval e a situação ficou perigosa. Eu estava tão determinada a ir em frente que nem percebi que os outros tinham desistido. Preferi ignorar o milhão de pensamentos e me concentrar em nadar. Nessas horas, só penso no mar, na respiração, em cada braçada, o que faz com que eu entre numa espécie de transe. Cheguei à margem da França depois de 19 horas e 26 minutos. Estava acabada e seis quilos mais magra, mas a sensação de realização compensou tudo.


Comecei a nadar tarde, aos 28 anos. Sem nunca ter praticado esportes, entrei num curso de natação para estimular meu filho. Depois de dois anos de aula, fui convidada a representar a escola em uma competição no mar de Guaratuba (PR). Topei. Chegando lá, fiquei tão impressionada com a dimensão do mar que me atrasei na largada. Comecei a nadar desesperadamente e, quando tirei o rosto para fora da água, estava perto do barco de um pescador. 'Você está em segundo lugar', ele disse. Consegui a segunda colocação e, a partir daí, a piscina ficou pequena para mim. Eu, que nasci no interior do Paraná e vi o mar pela primeira vez aos 13 anos, decidi que só queria nadar no oceano.

Nessa época, a nadadora Renata Agondi havia morrido durante a travessia do canal da Mancha [a morte foi causada por hipotermia, queda da temperatura interna do corpo a níveis intoleráveis]. Fiquei mexida com a história e meti na cabeça que um dia tentaria a mesma travessia em homenagem a ela. Sei que o que faço é arriscado, mas sou prudente. Vou percebendo os meus limites e me sinto mais forte cada vez que os supero. A verdade é que nunca gostei de me sentir limitada. Acredito que a capacidade de se adaptar a novas situações aumenta a habilidade para viver bem.

Cada aventura exige um preparo específico. Em 2001, para fazer a travessia no lago Titicaca, na Bolívia, precisei ganhar oito quilos -a gordura serviria para me proteger da água gelada, em torno de 7 graus. Sabia que o risco de sofrer uma hipotermia era grande, e que isso poderia ser fatal.

Embarquei para a Bolívia um mês antes, para me acostumar com o frio. Dia sim, dia não, subia a 4.000 metros de altitude para caminhar só de maiô, por uma hora, sob uma temperatura de cinco graus negativos. Durante as 8 horas e meia da travessia, tive três princípios de desmaio. Senti que podia morrer, mas também achava que podia chegar até o fim. Completei o trajeto com problemas de circulação nas mãos e nos pés -depois, fiquei sem andar por uma semana. Mas cumpri o meu objetivo e me senti mais forte como ser humano.

A minha próxima travessia vai ser cruzar o lago Ness, na Escócia, aquele que dizem que tem um monstro. Não largo essa vida por nada, adoro. Hoje vivo em Santa Catarina e treino em Bombinhas. O meu filho, que é engenheiro, não tem nenhum trauma por ter ficado longe de mim enquanto eu nadava. Somos felizes. Se eu tenho medo da morte? Temo mais as guerras do mundo. Eu me sinto estranhamente protegida. Dou a primeira braçada e deixo que Deus cuide do resto.''

Fonte: Globo.com